domingo, 27 de setembro de 2009

O CHORO QUE VEM DEPOIS


Já era noite. Eu e Caio sozinhos em casa, nos preparando para a curta viagem até a casa da vovó e do vovô. Eu carregava o carro rapidamente, enquanto ele se distraía na sala. Então ele veio até a porta, eu já fechava o portão. Estava há menos de um metro de distância dele. Ele foi descer o degrau para a garagem, mas olhava para mim, pisou em falso... "Vai cair!" E popof!! A antevisão do tombo não me garantiu evitá-lo: "meu reflexo foi lento demais!" seria a frase que me perseguiria nas horas seguintes. Enquanto eu via o tombo, corria para segurá-lo, mas não deu tempo. O tombo foi feio, o menino quicou no degrau, deu uma semi pirueta e caiu no chão. O coração disparado, os braços estendidos para aninhá-lo, o choro de cortar o coração. Apesar do desespero, tento racionalizar: olho Caio de cima abaixo, "cortou? tem sangue? tá machucado?", vou inspecionando cada cantinho, ao mesmo tempo em que o abraço forte. Vou ao banheiro para lavar rosto e mãos do pequeno, e o sangue começa a escorrer do nariz. D-E-S-E-S-P-E-R-O! Era a segunda vez que via sangue nele, a primeira no nariz. E o medo de ter quebrado??? Tentava estancar o sangue e analisava aquela bolinha perfeita que ele tem no rosto: não parecia ter quebrado, mas tinha uma marca de batida no alto do nariz. Vamos para a sala, coloco ele no peito para conseguir limpar melhor o sangue: em poucos minutos ele estava reestabelecido, me olhando e rindo, fazendo graça com o mamá, o sangue estancado. ALÍVIO IMEDIATO. Tento ligar para a pediatra, em todos os telefones, e NADA (droga!). Caio já está no chão, alegrinho, brincando. Decido ligar para o pai, que está a milhares de quilômetros de distância (sabia que não ia resolver, mas pelo menos ia dividir a agonia...): ele me consola - "nariz é sensível mesmo, qualquer batidinha sangra", me tensiona - "mas você que está aí vendo, parece que quebrou? ele tá bem?", me puxa a orelha - "vê se deixa a porta fechada da próxima vez..." (grrrrrrrrrrrrrrrr!) e me alivia "se ele tá brincando, tá tranquilo, é porque tá tudo bem, fica calma!". Ok, beijo-tchau. Resolvo ligar para uma amiga-mãe mais experiente do que eu: "menino é assim mesmo, Thaís, ih, vai sangrar muito esse nariz! Se ele mamou, não vomitou, não dormiu, tá alegrinho é porque tá tudo bem. Espera um tempinho pra ver se ele fica bem mesmo e pode ir tranquila." Espero. Observo. Olho mil vezes, "essa luz não tá boa, vamos pra cozinha", olho de novo, aperto pra ver se sente dor, "tá doendo filho?", olho de novo, "será que quebrou? acho que não, ele não sente dor... mas tá ficando roxinho! levo ele no pronto atendimento? ai, mas aquele ambiente horrível, vão fazer raio x nele, tão pequeno..." Um incessante e agoniante diálogo interno se processava, e ele ali, brincando, fazendo graça. E fez um baita cocozão. "Ele tá bem" foi a sentença final do diálogo. Com ele no colo, tirei as bolsas que já estavam no carro, limpei o dito cujo, troquei, coloquei tudo de volta no carro, coloquei ele na cadeirinha e peguei a estrada. Meu pai me liga na saída da cidade, conto o que aconteceu, digo que logo estou chegando. Em minutos Caio dorme. E eu desabo numa choradeira sem fim, torneira aberta para aliviar o coração. Porque mãe tem que ser forte e aguentar o tranco, mas não é de ferro.

19 comentários - clique aqui para comentar:

Dany disse...

Tadinho do Caio e de vc tb, Thaís!
Como a gente sofre quando nossos pequeninos se machucam, caem...
Uma vez meu Caio queimou a mãozinha no ferro que EU deixei embaixo da minha cama!!! Ele BERRAVA! Saí correndo pro pronto-socorro junto da madrinha dele. Não chorei na hora, tratei de acalmá-lo... Fiz tudo "racionalmente" na medida do possível. Chegando lá, a pediatra me mandou observar a mãozinha porque podia ser que um dedinho ficasse colado no outro... Imagina meu desespero!!!!!!!! Quando cheguei em casa com ele, desabei a chorar...
Final da estória: a mãozinha dele continuou PERFEITA! Não tem nem cicatriz!
Bj e bom domingo!

dannah5 disse...

Thais, te entendo perfeitamente eh assim mesmo, a gente sofre muito junto. Sangue eh dureza, aqui me lembrou muito uma vez que a Amanda com 1 ano e meio mais ou menos subiu no carrinho de bebe do primo, era diferente do dela, q era pesadao, era aquele de aluminio da mclaren, ela tinha mania de ficar em pe nele com a barriga encostada no encosto, pra se sentir grande, sacome! So q como o carrinho eh muito leve, tombou pra tras, ela caiu no chao bateu a boca no chao, resumo, rasgou o labio inferior todo por dentro, uma sangueira, e eu olhando, acalmando, limpei, ela ficou mordendo o labio, passou o tempo acalmou mas sabe, sangrou muito. Ai quebrei o pau, meia duzia na sala eu na cozinha fazendo almoço e ninguem pra olhar a menina? Depois q ela acalmou e foi com o pai eu fui pra cozinha batendo pé uma arara ai abri a boca a chorar, nossa, chorei tanto, ai veio minha mae, me abraçou e eu so chorava, me culpando q eu nao era onipresente para estar em 2 lugares ao mesmo tempo. Tao dificil lidar com essas nossas cobranças, eu ainda penso como vai ser quando tivermos q lidar com um coraçao partido, OMG, isso deve doer tanto na alma...
Beijocas pra vcs, nao fica triste nao, mae eh tudo igual, so muda o endereço, a gente sofre junto com eles!

BLOG DA GRÁVIDA disse...

Ai, Thais...sofri com você enquanto lia o relato...você foi ótima!! Manteve a calma, aguardou, observou. Sou tão exagerada, dramática e medrosa que provavelmente teria transformado o caso numa ida ao pronto-socorro... ou talvez tivesse passado mal. Imagina só..um filho sangrando. Pior é que sei que tenho de estar preparada para isso e para coisas muito piores. Ainda mais mãe de menino, né..? Minhas amigas-mães-de-menino dizem que com o tempo a gente acostuma e já nem acode mais. Vê tanto joelho ralado, braço quebrado, etc. que quando o moleque cai a mãe acaba só gritando de longe: "Levanta e anda!" hehehe Tomara!! Mas duvido muito! Beijo! Boa semana!

Cris disse...

Thaís, tadinho dele. Mas isso acontece muito, infelizmente.
E imagino como vc ficou na hora e depois. A gente fica numa tensão que só.
Que bom que não foi nada!!
Beijos e boa semana,

Cris - Vida de mãe

Paloma Varón disse...

Ufa, estes diálogos internos são assim mesmo. Levo ao PS ou não? Tá doendo? Quebrou? Quando a gente está sozinha, parece pior, né? Eu também ligo para marido e outros, nem que seja para aliviar por um instante.
Gostei que o cocozão foi a sentença de que estava realmente tudo bem, hehehe!

Roberta Lippi disse...

Eita, menina, tomamos susto na mesma semana, hein! Ainda bem que não foi nada e que você nem precisou levá-lo ao hospital. Duro é a gente pensar que esses sustos não foram os primeiros e não serão os últimos, né?
Essa molecada, viu.... ai, ai, ai...
Beijos

Anônimo disse...

Acho que vc foi ótima, instintiva, agilizada.
Fazer o que , dói mesmo e muito. Na gente.
Isso é o que mais atormenta na maternidade: a incapacidade de sofrer por eles. Que, cá entre nós, se a gente pudesse a gente trocava de lugar com eles fá-cil.
Beijo, força aí.
Roberta

Renata disse...

E como às vezes é difícil ser forte, vendo o pequenininho sofrendo! Nossa! Queria era poder chamar a minha mãe, porque ela sim tem que ser forte, né? rs!!
Ainda bem que foi só um susto e que o pequeno já está bem!
beijo enorme, Re

Cynthia Santos disse...

Ai, Thaís, chorei junto com você... a sensação de impotência é horrível, né? E essas coisas sempre acontecem quando a gente está sozinha...afe!
Graças a Deus tudo acabou bem... beijos pros dois!

Letícia Volponi disse...

Acho que esses tombos acabam doendo mais na gente do que neles. E aquele chorinho estridente de dor corta o coração, né? Mas ele está bem e é assim mesmo. Vai calejando nossa alma para socorrer sempre que preciso.

Flavia disse...

A gente é super mãe, mas não tem sangue de barata, né?
Das vezes que o João caiu e sangrou, algumas vezes, eu chorei junto, talvez por achar que faz parte dos super poderes de mãe, não deixar nunca ele se machucar então bate uma "mea culpa" misturada com o aperto no coração de ver o pequenino chorar. Fora que sou manteiga derretida mesmo... Não que eu ache certo ou maduro da minha parte... mas quem sabe um dia eu aprenda.

beijos,

Mãe do Pitoco disse...

Ai, que aflição! daqui, deu vontade de chorar tb. Por ti e por ele, porque a gente fica se martirizando depois, né? Apesar de saber que, obviamente, não foi culpa nossa e que não somos super mulheres nem super mamães com poderes de voar ou de esticar um braço além do que o cotovelo permite. Não fique chateada consigo mesma, não, porque isso ainda vai acontecer muitas e muitas vezes porque meninos são MESMO assim. Pitoco não quebrou os dentinhos 1 mês depois de tê-los na boca? E conseguiu a proeza engatinhando, sendo que ele já andava. Ou seja, acontecem as coisas em momentos mais banais e não temos como prever. Beijos nos dois, viu?

Dani Balan disse...

Quase perdi o fôlego lendo o post! Que sustão heim! Graças a Deus que não foi nada! Pode chorar, Thais, a gente pode! Mãe pode tudo! Eu me mato de chorar todo dia quando deixo ela com a minha mãe para vir trabalhar! Dói ser mãe! Beijo e força!Dani

JULIANA disse...

Ai que dó do Caio. E de vc!
Heitor me deu o primeiro susto essa semana e eu pirei total! Lembrei da minha mãe, coitada que aguentava minhas crises de vômitos por dias... sorte nossa esses pequenos são mais fortes que nós!

Nádia disse...

Thaís,
Que bom receber visita sua no blog! De fato, fico sem escrever de tempo em tempo pq a vida real e profissional exige muito de todas nós, mas é uma delícia escrever, receber as visitas virtuais, acompanhar o crescimento de nossos bebês e da gente como mãe, muito lindo isso!

Li agora seu relato e vivi passo a passo a sua angústia! Ufa! Só posso dizer que é bom ler sua vida e a de Caio mesmo qndo a vida revela seu lado mais frágil e difícil. Bjos pra vcs!

Rebeca disse...

É o fim do mundo mesmo. Nariz sangrando não tivemos ainda mas os joelhos vivem em constante mutação e os dentes da frente já sangraram 2 vezes. Pânico.

Beija o nariz de bolinha

Dany disse...

Tem um selinho p/ vc lá no Quartinho!

BLOG DA GRÁVIDA disse...

Oi! Tô sentindo falta dos seus posts! Beijo! Boa semana!

Vi disse...

Estou com lágrimas nos olhos porque passei algo assim ontem mesmo e meu marido está a milhares de quilômetros de distância também. Tenho um blog em que escrevo algumas coisas sobre a aventura da maternidade e tudo que mexeu e mexe comigo todos os dias. Gostei de ler o seu. É como estar remando numa lagoa e olhar pro lado e ver outras mães também remando, felizes, mas suando, suando, suando, sorrindo e suando.