Sempre fui uma pessoa sensível, em muitos momentos à flor da pele mesmo, para o bem e para o mal (como por exemplo na TPM). Mas a maternidade revirou minha sensibilidade de cabeça pra baixo. E não falo aqui só das alterações hormonais, etc. e tal, que meu marido adora invocar nos meus momentos mais críticos (!), mas de um aguçamento, uma depuração diária dessa sensibilidade, a partir do contato com meu filhote, hoje com seis meses.
O período da minha gestação foi repleto de emoções as mais diversas, chorei e ri com intensidades nunca antes experimentadas. Obviamente detonadas pelas alterações hormonais, a vivência dessas emoções foi muito além delas, e fizeram desse período um dos mais prazerosos desses meus trinta e um anos.
Assim, no meio desse turbilhão, ficava imaginando como seria no dia do parto, me via chorando copiosamente após o nascimento do meu pequeno. Mas isso não aconteceu: após a avalanche de sensações físicas, mentais, espirituais vividas durante o parto mais-que-perfeito que tive, a partir do momento em que meu filho nasceu a plenitude foi tamanha que eu não chorei. Uma serenidade tomou conta de mim, só conseguia sorrir e mirá-lo sem parar. Não derrubei uma lágrima. Ali senti o quanto a maternidade mexeria com minha sensibilidade, mais do que eu poderia imaginar, muito mais do que o que eu já tinha vivenciado durante a gravidez.
Meu filhote nasceu numa segunda-feira de madrugada, meus pais e sogros vieram nos ver após o almoço e, no fim do dia, quando todos se foram e eu me vi sozinha com ele em meus braços, amamentando-o como se sempre tivesse feito aquilo, pela primeira vez eu chorei. Olhava para aquele ser tão pequenino e chorava, lembrava dos momentos intensos vividos durante o parto e chorava, sentia um amor maior que tudo me invadir e chorava, chorava, chorava e sorria incontrolavelmente. Nunca tinha me imaginado capaz de uma emoção tão intensa, tão avassaladora. Aquilo me tomava o fôlego de uma tal forma, experimentava uma sensação de felicidade tão grande, que era como se eu estivesse dopada.
Essa sensação me invadia quase todos os dias durante o primeiro mês de vida do meu filho. Bastava termos nosso momento a sós, olho no olho, pele com pele, e eu chorava e sorria sem parar novamente. Ao contrário da depressão pós-parto, tão comentada, eu tive um surto de felicidade pós-parto (esse sim deve ser difundido!), um encantamento que fazia com que as dificuldades naturais desses primeiros momentos da maternidade parecessem pequenas. Por várias vezes, racionalizando essa sensibilidade contraditória, em que choros e risos se confundiam, lembrava das brincadeiras nas listas de discussão sobre a bendita ocitocina, e imaginava que minha produção devia estar nas alturas...
Aos poucos, fui me acostumando com essa nova sensibilidade que despertou quando a mãe dentro de mim nasceu. Olhares, toques, embalos, carícias, cuidados, brincadeiras, cantigas foram canalizando toda essa emoção, e eu já não choro tanto... Mas vira e mexe me pego olhando para aquela coisinha, lembrando de tudo que passamos juntos ao longo dos nove meses de gestação, do nosso trabalho conjunto para que ele viesse ao lado de cá do mundo, vejo aqueles olhinhos me encarando, aquelas mãozinhas me acariciando... e choro... choro mesmo, como criança... sinto a mesma emoção me invadir, com a mesma intensidade.
Meu marido acha graça. Ele é parte de toda essa emoção, ele sim chorou no momento do nascimento, mas não consegue imaginar o que seja essa sensibilidade tão intensificada. Mas vejo um sorriso bonito no seu rosto quando me flagra num desses dias a chorar. E quando isso acontece, lembramos do quanto nos empenhamos para trazer nosso filho ao mundo da forma mais humanizada possível, do quanto nos unimos para transformar em realidade um ideal de nascimento que fomos construindo juntos ao longo dos nove meses de gestação, e compactuamos na certeza de que toda essa sensibilidade aflorada de modo tão intenso e tão feliz tem relação direta com nossas escolhas, conquistas e vivências em relação à gestação e ao parto. E que essas mesmas escolhas, conquistas e vivências direcionaram irremediavelmente nosso modo de ver, pensar, sentir, vivenciar a maternidade – e a paternidade – como um todo, ainda que tenha dias que eu chore, e ele ria...
* texto publicado no blog Mamíferas, em outubro de 2008, como "mamífera convidada".
O período da minha gestação foi repleto de emoções as mais diversas, chorei e ri com intensidades nunca antes experimentadas. Obviamente detonadas pelas alterações hormonais, a vivência dessas emoções foi muito além delas, e fizeram desse período um dos mais prazerosos desses meus trinta e um anos.
Assim, no meio desse turbilhão, ficava imaginando como seria no dia do parto, me via chorando copiosamente após o nascimento do meu pequeno. Mas isso não aconteceu: após a avalanche de sensações físicas, mentais, espirituais vividas durante o parto mais-que-perfeito que tive, a partir do momento em que meu filho nasceu a plenitude foi tamanha que eu não chorei. Uma serenidade tomou conta de mim, só conseguia sorrir e mirá-lo sem parar. Não derrubei uma lágrima. Ali senti o quanto a maternidade mexeria com minha sensibilidade, mais do que eu poderia imaginar, muito mais do que o que eu já tinha vivenciado durante a gravidez.
Meu filhote nasceu numa segunda-feira de madrugada, meus pais e sogros vieram nos ver após o almoço e, no fim do dia, quando todos se foram e eu me vi sozinha com ele em meus braços, amamentando-o como se sempre tivesse feito aquilo, pela primeira vez eu chorei. Olhava para aquele ser tão pequenino e chorava, lembrava dos momentos intensos vividos durante o parto e chorava, sentia um amor maior que tudo me invadir e chorava, chorava, chorava e sorria incontrolavelmente. Nunca tinha me imaginado capaz de uma emoção tão intensa, tão avassaladora. Aquilo me tomava o fôlego de uma tal forma, experimentava uma sensação de felicidade tão grande, que era como se eu estivesse dopada.
Essa sensação me invadia quase todos os dias durante o primeiro mês de vida do meu filho. Bastava termos nosso momento a sós, olho no olho, pele com pele, e eu chorava e sorria sem parar novamente. Ao contrário da depressão pós-parto, tão comentada, eu tive um surto de felicidade pós-parto (esse sim deve ser difundido!), um encantamento que fazia com que as dificuldades naturais desses primeiros momentos da maternidade parecessem pequenas. Por várias vezes, racionalizando essa sensibilidade contraditória, em que choros e risos se confundiam, lembrava das brincadeiras nas listas de discussão sobre a bendita ocitocina, e imaginava que minha produção devia estar nas alturas...
Aos poucos, fui me acostumando com essa nova sensibilidade que despertou quando a mãe dentro de mim nasceu. Olhares, toques, embalos, carícias, cuidados, brincadeiras, cantigas foram canalizando toda essa emoção, e eu já não choro tanto... Mas vira e mexe me pego olhando para aquela coisinha, lembrando de tudo que passamos juntos ao longo dos nove meses de gestação, do nosso trabalho conjunto para que ele viesse ao lado de cá do mundo, vejo aqueles olhinhos me encarando, aquelas mãozinhas me acariciando... e choro... choro mesmo, como criança... sinto a mesma emoção me invadir, com a mesma intensidade.
Meu marido acha graça. Ele é parte de toda essa emoção, ele sim chorou no momento do nascimento, mas não consegue imaginar o que seja essa sensibilidade tão intensificada. Mas vejo um sorriso bonito no seu rosto quando me flagra num desses dias a chorar. E quando isso acontece, lembramos do quanto nos empenhamos para trazer nosso filho ao mundo da forma mais humanizada possível, do quanto nos unimos para transformar em realidade um ideal de nascimento que fomos construindo juntos ao longo dos nove meses de gestação, e compactuamos na certeza de que toda essa sensibilidade aflorada de modo tão intenso e tão feliz tem relação direta com nossas escolhas, conquistas e vivências em relação à gestação e ao parto. E que essas mesmas escolhas, conquistas e vivências direcionaram irremediavelmente nosso modo de ver, pensar, sentir, vivenciar a maternidade – e a paternidade – como um todo, ainda que tenha dias que eu chore, e ele ria...
* texto publicado no blog Mamíferas, em outubro de 2008, como "mamífera convidada".
2 comentários - clique aqui para comentar:
AMEI ...revivi algumas emoções adormecidas há tanto tempo.. e até uma lágrima daquelas que ficam meio escondidas,debruçou no paarapeito e começou a escorregar ..e depois aquele sorriso de quem ama reviver momentos que afinal se repetem em quem está chegando neste movimento de roda que a vida sempre faz.
Fiz o comentário acima e esqueci de assinar.ZU
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