quarta-feira, 27 de abril de 2011

COMEÇOU A MALANDRAGEM

chamego no barrigão de quase 1 mês atrás
 
Eu e Caio deitados na cama, curtindo um papo e um chamego antes da historinha pra dormir. O bebê (a barriga) é o centro das atenções nos carinhos e conversas. De repente começo a sentir um cheirinho estranho, e pergunto:

- Ê filhote, tá soltando pum?

Ao que ele responde, na moral, sem pestanejar:

- Eu não, mamãe, é o bebê!

E caímos os dois na gargalhada. 

(Já pensaram quando nascer? Irmão mais novo sofre.... Rá!)

terça-feira, 12 de abril de 2011

FESTINHA CASEIRA!


3 anos... um meninão e ao mesmo tempo o meu menininho. E que, de novo, quase fica sem festinha (ano passado tínhamos acabado de mudar de casa, fizemos um bolinho no dia e uma festa de aniversário + inauguração da casa nova um mês depois, tadinho...). Mas a gente se vira, se desdobra e comemora, sempre. Porque eu e Dani somos do tipo que acredita que celebrar momentos importantes entre pessoas queridas é fundamental pra seguir em frente.

Assim, depois de debates intensos sobre agendas difíceis e grana curta, decidimos que esse ano a festinha do Caio seria comemorada no dia do aniversário mesmo, em plena quinta-feira, apesar das baixas de pessoas queridas que isso representaria (tia Sir que o diga...). E, mesmo com um barrigão federal e descadeirada por conta de um tombo que levei dois dias antes do aniversário, com a ajuda  FANTÁSTICA da minha mãe, e também do maridón e do meu pai, Caio teve uma festinha deliciosa.

Pela primeira vez, inspirada nas mães-blogueiras-prendadas que encontrei blogosfera afora, meti a mão na massa a valer, mesmo não tendo muitos dotes manuais. A principal culpada foi a querida Micheliny, que além de tudo sugeriu o tema da festa: O Super-Irmão!

O pai fez o convitinho, sucesso absoluto!


Eu fiz capinhas recicladas de super-herói (aprendi aqui!), que junto com os braceletes feitos em parceria por vovó e papai e umas mascarazinhas de EVA foram as lembrancinhas da festa, e deixaram as brincadeiras mais divertidas. Até tio Du entrou na onda das fantasias, pra alegria da criançada.


 
Recortei bandeirinhas pra enfeitar entrada de casa e a mesa do bolo, e improvisei uns enfeitinhos.


a mesa quase pronta e no fim da festa...

Com exceção do bolo e dos pasteizinhos deliciosos que minha sogra sempre traz, todos os quitutes foram feitos pela minha mãe, por mim e pela ajudante aqui de casa.  Destaque para os tradicionais bombocados da família feitos pela vovó, estavam divinos!


Caio comeu TODOS os quitutes antes da festa...

Foi tudo muito simples, só convidados queridos e muito chegados, mas valeu ver a alegria do Caio, sua euforia nos vendo preparar tudo, a piração com as fantasias, os dedinhos enfiando nos docinhos, os milhares de espetinhos roubados antes da hora, as brincadeiras deliciosas de super-herói...


Sem dúvida essa foi a primeira festinha que ele curtiu de verdade como sendo realmente DELE, já entendendo o que estava acontecendo e aproveitando tudo. Apesar da canseira (né, mãe?) valeu cada minuto e cada centavo dedicado. E agora eu tomei gosto pela coisa, tomara que eu tenha a possibilidade de pôr a mão na massa em muitas outras festinhas dos pequenos!!!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

POR UMA INFÂNCIA SEM RACISMO



Pois bem. Eu tô sempre meio atrasada nessa intensa blogosfera materna. A blogagem coletiva sobre infância e racismo, proposta pela Ceila, do Desabafo de Mãe acabou dia 28, e eu quase passei batido. Não porque o assunto não me toque: pelo contrário, como vai ficar claro nesse post. Mas por pura falta de tempo pra parar, refletir, escrever. Mas, como nada nessa vida é só acaso, foi justamente o Caio que me conectou tardiamente a essa blogagem. E aqui estou, escrevendo enquanto reflito, e refletindo enquanto escrevo, dedicando minutos que seriam do meu sono precioso pra entrar nessa roda também.

O fato é que ontem, enquanto nos preparávamos para dormir, Caio fala, do nada: Mamãe, minha cor não é branca, minha cor é preta! E eu, intrigada com aquilo, e achando graça, dou corda: ah, é filho, e porquê? Ele: Porque é bonito. Concordei com ele, e deixei a conversa fluir, sem querer muito extrair "ensinamentos" daquela espontaneidade bonita: se o assunto continuasse, eu embarcava na dele, senão, aproveitaria a pureza do olhar da criança de 3 anos, me sentindo feliz por ele perceber as coisas dessa forma e reafirmando internamente o necessário e cotidiano esforço por não transmitir a ele qualquer ranço de preconceito que em mim possa existir. E assim foi, ele terminou a conversa com: e a cor da mamãe também é preta. Eu gosto. E foi mudando de assunto, falando de super heróis e flautas, os assuntos do momento.

Existem muitas formas de se ensinar a diversidade a uma criança. Acredito nisso pessoal e profissionalmente. Mas, em se tratando de uma criança de quase 3 anos, como o Caio, creio que a vivência cotidiana, as práticas familiares e escolares são os principais elementos: não há como racionalizar ou verbalizar demais o assunto nessa idade. 

Caio convive com crianças e adultos diferentes dele e de nós desde sempre. Temos parentes e amigos índios, negros, descendentes de japoneses, loiros, de olhos azuis, verdes, castanhos, pretos, deficientes físicos. Em sua escolinha, há muitos filhos de imigrantes, em especial latinoamericanos e africanos. A avó de Dani é índia, e ele tem traços inconfundíveis dessa herança.

Recentemente, Caio começou a perceber certas diferenças entre as pessoas, de uma forma bem natural: começou pela cor dos olhos, percebendo que as tias (minhas irmãs) tinham olhos de cor diferente da do dele ou do meu. Falou nisso por muito tempo, sempre perguntando para reafirmar a diferença. Depois veio a percepção das diferentes cores de pele, mas ainda de forma sutil, através de um momento de pintura com lápis de cor em casa, e depois a constatação de que seu boneco preferido (o João, primo do Júlio, do Cocoricó) tinha uma cor diferente da dele.  Ele também já havia detectado a diferença física em um amigo nosso que tem uma deficiência em um dos braços, e em alguns livros em braile que minha irmã (ela trabalha na Fundação Dorina Nowill) deu pra ele e que tratam lindamente de temas como diversidade e diferença junto às crianças.

O interessante é notar como, para ele, o estranhamento da diferença não é acompanhado de juízo de valor: ele já tinha convivido com inúmeros negros quando se deu conta dessa diferença, brincando com cores e bonecos. Ele tem uma grande amiguinha e uma tia que são japonesas perfeitas (embora sejam já de uma segunda ou terceira geração de mestiçagem), mas essa diferença ainda não lhe chamou a atenção. Mas, ao perceber a diferença, seja da cor dos olhos, da cor da pele ou da deficiência física, ele expressou seu estranhamento, e eu procurei não reprimir, ou condenar. Deixei-o expressar essa estranheza, e tentei ajudá-lo a entender, apreender a novidade de percepção. E aí aquela descoberta passou a fazer parte do seu universo lúdico, e não causa mais estranhamento. Principalmente se, ao seu redor, elas estiverem de fato presentes, seja em brinquedos, livros, filmes e, principalmente, nas pessoas de seu convívio cotidiano.

Porque se a criança não convive com negros, para citar um exemplo, o estranhamento vai ser maior, certamente. Lembro que, há um tempo atrás, uma amiga comentou comigo que estava pensando em fazer algum trabalho social, para que as crianças dela convivessem mais com negros, pois estavam tendo um grande estranhamento cada vez que encontravam com um. Aquilo me cutucou: é fato que em nosso meio, de classe média, convivemos  com poucos negros, e a reação das crianças foi um escancaramento disso para aquela família.

Mas, aqui em casa isso é diferente, em especial por conta do meu marido. Embora eu sempre tenha convivido e tido amigos de diversas etnias e nacionalidades, posso contar nos dedos aqueles com os quais convivi em profundidade. Na infância, então, tive apenas uma única amiga negra. Nunca tive um amigo de origem indígena e, mesmo meu marido sendo descendente de índios, pouco conhecemos das suas raízes.

Dani, entretanto, se interessa pela cultura africana ou de matriz africana desde a adolescência, quando passou a praticar capoeira. Hoje, além de arquiteto e militante da cultura digital, ele é também professor de capoeira angola, praticante e produtor de cultura popular. Está envolvido em diversos projetos focados em educação para a diversidade, ligados à lei 10.639. Em nossa casa, desde sempre, temos tambores, berimbaus, imagens de capoeiristas negros, discos de samba, livros sobre escravidão e práticas culturais de origem africana, etc etc etc. Práticas e apresentações de capoeira, samba, jongo, coco, cacuriá, congada, maracatu são presentes na vida de Caio desde muito cedo e, por conta disso tudo, ele está crescendo em meio a referências culturais que carregam em si a diversidade, a diferença, o questionamento do preconceito, a luta por afirmação, coisa que nem eu, nem Dani tivemos em nossa infância (só para ter uma ideia, minha avó ficou horrorizada porque em minha festa de casamento tinham 2 negros... isso me entristece, mas é inevitável constatar que esse racismo está, de alguma forma, na pré-história de minha criação - mesmo que meus pais tenham me criado de forma bem diferente, eles foram criados sob essa perspectiva preconceituosa e discriminatória, e admiti-la, ainda que doa, é o primeiro passo para transformá-la, penso eu). 

Além disso, a escolinha dele também incorporou as diretrizes da Lei 10639 e, entre outras coisas, os alunos praticam capoeira na escola, o que claramente tem despertado o interesse do Caio pela cultura negra (africana, afro-brasileira, afrodescentente.... são tantas variáveis...), e, talvez por isso, aquela manifestação de ontem sobre ter a cor preta...

Enfim, eu poderia escrever muito ainda sobre o assunto, sei que não cheguei à conclusão nenhuma, mas o que vejo da nossa prática cotidiana e o que, de forma meio espontânea - já que nunca paramos efetivamente pra conversar: como vamos construir uma infância sem racismo para nossos filhos? - acredito de verdade que já estamos nesse caminho, e me alegro em poder dizer isso, pois vejo também em mim a tranformação.

[Esse post faz parte da Blogagem Coletiva iniciada a partir da Campanha da Unicef Por uma Infância sem Racismo]